São Sebas pede paz nas escolas




“A violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais” (Legião Urbana)

Estamos vivendo a Crônica da tragédia escolar anunciada. Dois anos de isolamento social, aumento do corpo discente, crises sanitária e econômica graves e onerosos cortes no investimento para a educação. Já estava certo que o retorno às aulas não seria nada fácil, sobretudo as escolas públicas das regiões periféricas. Mesmo com uma leitura de contexto tão óbvia, o poder público não conseguiu se planejar estrategicamente para isso. Assim, as escolas, que já tinham inúmeras dificuldades, estão de mãos atadas e solitárias para fazer o enfrentamento dessa problemática que é generalizada.

Todos os dias somos bombardeados com as notícias de situações de violência dentro da escola. A informação é repassada de maneira descuidada, incompleta, envolta a incertezas, inverdades, sensacionalismo, exageros e a um sentimento de abandono que tem o intuito de explorar o fascínio que as pessoas tem pela violência. Tudo isso aumenta a atmosfera de medo e vulnerabilidade em toda a comunidade escolar, pois cria estigmas, simplifica a problemática e induz à busca de soluções igualmente superficiais e, por isso, ineficientes. Acaba por, na verdade, alimentar ainda mais o problema, espetacularizando e explorando a dor e a tragédia alheia em troca de audiência.

A violência na escola é uma questão complexa que merece um olhar cuidadoso e responsável. Para tocar esta discussão, é necessário levar em consideração as diversas violências que ocorrem no cotidiano da escola: as estruturais e as relacionais, sejam estas físicas, psicológicas ou simbólicas. Também é preciso compreender que a violência na escola é reflexo do que os jovens vivenciam em seus contextos socioculturais: discussões familiares, abusos, ausência materna ou paterna, falta de afeto, desemprego, pobreza, exclusão, além do estímulo à violência propagado diariamente nas mídias e redes sociais.

As turmas estão lotadas e parcela expressiva dos jovens estão eufóricos, jogados à própria sorte, atrasados e sofrendo as consequências da crise econômica que assola o país. A ausência do estado é um escárnio, o que aumenta a descrença na política e causa imensa revolta. Mas o que podemos fazer? Como transformar esse sentimento de revolta em ações práticas para o enfretamento dessas violências? Afinal, a sociedade tem sua parcela de responsabilidade na promoção da educação. Somente com um trabalho em rede, que articule poder público e sociedade civil, é que podemos avançar rumo a cultura de paz, lembrando que sua construção é feita cotidianamente, por meio de movimentos conscientes de co-responsabilidade que se iniciam em nível pessoal.

Mobilizar a comunidade a fim de pressionar e cobrar as autoridades para que tomem medidas urgentes é uma ação efetiva, mas que precisa ser feita de maneira organizada. Existem espaços democráticos que tem legitimidade para tal, como o Conselho de Segurança, o Fórum de Cultura, a Rede Intersetorial, os Conselhos Escolares etc. Nestes espaços, podemos organizar a sociedade civil a fim de encontrar respostas. Como a Secretaria de Estado de Justiça, a Vara da Infância e Juventude, o Conselho Tutelar e o Batalhão Escolar estão contribuindo nesse enfrentamento? Estão articuladas? As política públicas estão funcionando? Quais as dificuldades limitantes? Quais medidas estão sendo tomadas a fim de garantir segurança e a integridade física e emocional da comunidade escolar? Quem está fiscalizando e notificando a Secretaria de Educação? Como está sendo o acompanhamento dos jovens infratores e vítimas? Se o Batalhão Escolar não tem contingente para atender a demanda, a responsabilidade é de quem?

Precisamos usar nossa força política para chamar a atenção nesse sentido e estar mais próximo das escolas a fim de conhecer de perto a realidade muitas vezes cruel que as assolam. Além disso, é muito importante que se tenha cuidado com a forma de abordar as situações de violência, pois, a falta de contextualização adequada, leva a conclusões enviesadas, que apontam os estudantes como os culpados pela grave situação de violência nas escolas.

Na nossa comunidade está sendo desenvolvido um belíssimo projeto de educação para a paz voltado para crianças e adolescentes: A paz é a gente que faz: infância e juventude unidas no manifesto pela paz. A iniciativa conta com o financiamento do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente do DF (FDCA/DF) e visa a capacitação de 330 crianças, adolescentes e jovens, entre 06 e 17 anos, moradores da RA XIV - São Sebastião/DF, sobre a cultura de paz, por meio de metodologias pedagógicas centradas no brincar. Para conhecer mais, acesse: ludocriarte.org





Eu Isaac

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