No mês da consciência negra, plantio de Baobá marca aniversário de 18 anos do Congo Nya

 

Crianças em volta do Baobá. Foto: André Bento

O dia 15 de novembro de 2021 foi marcado por uma celebração histórica no território de São Sebastião: o plantio do primeiro Baobá do vale verde das antigas olarias. O ato compôs a celebração pelos 18 anos do Instituto Cultural Congo Nya, instituição sociocultural que promove a autoafirmação da identidade negra por meio da arte, da cultura afrobrasileira e da educação, no DF.

A muda de Baobá foi um presente de André Bento para mim, Isaac Mendes, arte-educador e coordenador Pedagógico da Brinquedoteca Comunitária e Ponto de Cultura Ludocriarte e artivista cultural de São Sebastião, onde desenvolvo ações de plantio e preservação de nascentes. Mantive a planta sob os cuidados das crianças, adolescentes e toda a equipe da Ludocriarte por cerca de 5 meses. Foi um período de aprendizado para todos. No decorrer do percurso, as folhas do Baobá amarelaram e caíram, mas com muito amor e dentro de pouco tempo se recuperou e ficou tudo verdinho de novo.

Foto: André Bento

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Talvez, a primeira vez que você entrou em contato com a palavra Baobá foi no livro O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Mas, ao se aprofundar, é possível descobrir que o Baobá (Adansonia digitata) é uma árvore da família das bombacáceas, endêmica das regiões tropicais do continente africano, famosa por sua longevidade (vive milhares de anos) e pela espessura gigantesca de seus troncos que podem alcançar mais de 10 metros de diâmetro e atingir até 25 metros de altura. Além disso, é uma árvore com grande representação cultural, social e religiosa para os povos tradicionais africanos, sendo considerada sagrada em algumas religiões. As primeiras sementes foram trazidas para o Brasil por ancestrais africanos escravizados no início da opressão escravocrata, no século XV.

Imagem do livro O pequeno príncipe



Um dos mais antigos Baobás do mundo 


O ritual para o plantio iniciou com minha fala, parabenizando Margot Ribeiro e Sherwin Morris pelos 19 anos de dedicação e trabalho árduo junto à comunidade de São Sebastião. Em seguida, o Professor André Lucio Bento, Doutor e mestre em Linguística (UnB) e especialista em Cultura Afro-brasileira e Africana (UFG), foi convidado à fala.

Preparando o berço do Baobá. Foto: Robson Lobato


Foto: Nanah Farias

Foto: Nanah Farias

Sentados em volta do berço do Baobá, ouvimos atentos sobre os múltiplos significados materiais e religiosos que envolvem a árvore, além de curiosidades científicas e históricas contadas pelo professor André. Aprendemos que o Baobá é uma planta muito generosa, pois, da casca às folhas, tudo é aproveitado pelo ser humano e outros animais. Por exemplo, sua casca e raízes têm propriedades medicinais. Seu fruto contém em seu interior um miolo com sementes agridoces, ricas em vitaminas e sais minerais, que podem ser secadas e armazenadas para épocas de escassez e uma polpa saborosa, altamente nutritiva. Suas folhas podem ser consumidas cruas ou cozidas e, quando trituradas com as raízes, têm diversas aplicações medicinais. Outras curiosidades também chamaram a atenção, por exemplo, sobre quando alguns mestres Griôs morrem e são enterrados nas fendas que se formam no tronco do Baobá, ou que o Baobá é conhecido como a árvore da memória e que o espécime mais antigo do Brasil se encontra no Rio Grande do Norte e, para algumas religiões, a árvore é considerada uma divindade.


Foto: Nanah Farias

Manu segurando uma fruta de Baobá. Foto: Nanah Farias

Foto: Cristiano Silva

Foto: Nanah Farias

Após esse momento de fala, a vibração dos djambês e das cordas do violão ressoaram no ambiente, mobilizando uma energia que fizeram os presentes reviverem a ancestralidade e se conectarem à potência do ato proposto. Cada presente foi convidado a plantar o Baobá, oferecendo um punhado de terra ao berço da planta e emitindo uma palavra de força. As crianças que estavam presentes (Bia, Manu, Milena, Rafa, Aisha, Ayla, Kalel, Ítalo, Geize, Giulia e Guilherme) foram as primeiras a plantar. Amor, vida, gratidão, fé, cuidar da terra, fartura, cuidado, axé, cultura e sabedoria foram algumas das intenções que adubaram as raízes da muda.

Imagens: Isaac Mendes
Foto: Nanah Farias 

Foto: Nanah Farias

Foto: Nanah Farias

Foto: Nanah Farias

Gui Congo. Foto: Nanah Farias 

Para Paulo Dagomé, poeta do mundo radicado em São Sebastião, a celebração “Pareceu-me o start de um recomeço para a retomada em 2022 e trouxe consigo o gérmen de um refazimento do tecido social esgarçado pela pandemia e pelas dificuldades que passamos nos últimos anos no movimento cultural, mesmo antes da pandemia.”

Imagem: Bárbara Pias

Após esse momento ritualístico e de celebração, pudemos conhecer o Guia Turístico de São Sebastião por meio da valorização da cultura afro-brasileira, elaborado por Aline Karina, Bacharel em turismo e mestranda em preservação do patrimônio cultural. O Sebas Turística é um projeto social que visa promover o turismo cidadão na região administrativa de São Sebastião DF, fortalecendo o protagonismo e as identidades históricas da região.

Foto: Isaac Mendes

Grande momento para a cidade! Imensa satisfação em integrar esse movimento de luta, celebração e conexão com a nossa ancestralidade, ao lado de pessoas tão queridas, sobretudo, das crianças da Ludocriarte que cuidaram do bebê Baobá com tanto amor e carinho e dos artistas do Movimento Supernova que contribuíram para essa festa acontecer. Salve a nossa quebrada! Máximo respeito por aqueles que reforçam diuturnamente os pilares culturais desse lugar. Vida longa ao Congo Nya! Vida longa ao nosso primeiro Baobá! Baobá da Esperança! Baobá da Paz! Baobá da Vida!

O evento foi uma co-realização entre Instituto Cultural Congo Nya, Associação Ludocriarte e Movimento Cultural Supernova. Contou com o apoio do Sebas Turística e do PHideias, viveicultor local.

Arte Designer: Paulo Dagomé

Quer conhecer o primeiro Baobá de São Sebastião? É só chegar na Quadra 104, Conjunto 09, São Sebastião-DF-CEP: 71692-345. Contatos: (61)99137 1438 / congonya.iccn@gmail.com

O nosso Baobá é um presente para o Congo Nya e para São Sebastião e, agora com suas raízes fincadas na terra, já pode ser considerado um ponto turístico da cidade.

Foto: Isaac Mendes



Eu Isaac

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