terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Stencil graffiti: arte e cultura urbana no território

Mural de Stencil Brinquedoteca Ludocriarte, quadra 104, São Sebastião-DF. Foto: @isaacmendes7

Vocês estão ligados sobre o que é o stencil graffiti

Pra entender melhor, vou começar falando um pouco sobre o graffiti que já é mais popular e muito comum nas metrópoles e suas regiões periféricas e que está envolto em muitas controvérsias, ao passo que é visto como subversivo, por se impor no território e usar a paisagem urbana como canal de expressão e comunicação.

Beco do Batmam (SP) - 2018 Foto: @isaacmendes7

De acordo com Santos (2010, p. 19) graffiti é um meio de comunicação visual que, através da expressão artística, transmite a revelação da realidade da sociedade e a dos próprios autores, nomeadamente no que diz respeito às suas expectativas, propósitos, ideais e sentimentos. Além disso, está em constante evolução. O graffiti, pela perspectiva dos seus autores e admiradores, apresenta algumas características importantes. Pode ser visto como arte alternativa, abundante em criatividade, com intenção de embelezar um determinado espaço, como poesia visual e como crítica a algo relacionado com a vida real da sociedade, enquanto que no entender de parcela expressiva da sociedade, de forma geral é considerado um ato marginal, de rebeldia e vandalismo contra o patrimônio. 


Bairro Bela Vista. Foto: @isaacmendes7

Mural da artista Carli Ayô no CED São Francisco
Foto: @isaacmendes7

Aos poucos essa expressão artística vem despontando na paisagem urbana de São Sebastião, sendo hoje em dia, praticamente impossível contemplar a cidade sem perceber diversos lugares contagiados por esta forma de manifestação artística (muros de casas culturais, escolas, creches, praças, paradas de ônibus, brinquedotecas etc.) que estabelecem uma intervenção gráfica de carácter criativo que manifesta-se por meio de imagens e/ou palavras, implicando uma linguagem visual de signos e simbologia relacionada com a cultura, os problema e as dinâmicas da sociedade.

No território se constroem diferentes formas de leituras e interpretações da realidade, oriundas de diferentes olhares e perspectivas e à medida que a cidade se desenvolve, mais presentes e perceptíveis tendem a ser as expressões artísticas no espaço público. O fluxo intenso de pessoas das mais diversas origens, formações e classes sociais cria um lugar propício tanto para a criação, produção e experimentação artística quanto para conflitos ideológicos. 

Comunicar é preciso! Mas com o advento da pandemia, os canais de comunicação ficaram ainda mais restritos ao ciberespaço e à narrativa das grandes mídias, tornando as vozes dos agentes locais ainda mais silenciadas. Nesse sentido, o stencil graffiti se apresenta como uma possibilidade de trazer voz a uma contra narrativa e dar vida ao território, justamente por se apresentar como uma forma popular e acessível de comunicar-se e fazer intervenções artísticas por meio da paisagem urbana.

Foto: @dirrlei

Foto: @isaacmendes7

A origem do stencil se encontra na China e pode-se dizer que foi a primeira forma de gravura. Nos anos 600 a.C. essa técnica foi muito utilizada para aplicar gravuras em tecido ao longo dos séculos e hoje, depois de muitos aperfeiçoamentos, é bastante utilizado para decorar paredes, móveis, roupas, objetos e lugares. Serve, por exemplo, de matriz para impressão por mimeógrafo como o princípio básico da pintura serigráfica. 

O processo de produção do stencil é simples e de fácil aprendizado e pode, ocasionalmente, ser conjugado com múltiplas variações e assumir características diversas. Consiste em criar uma matriz negativa por meio de recortes vazados em papel, plástico, metal, acetato ou chapas de radiografia que, aplicados sobre qualquer superfície, com o uso de tinta (sendo aerossol ou não), formam letras e/ou imagens com luz e sombras bem definidas. A produção envolve as etapas de criação, desenho, corte e pintura. Essa técnica pode ser usada para aplicações sobre tela, papel, tecido e outros materiais, mas quando aplicada em muros e outros espaços urbanos, é conhecida como stencil graffiti.

Nina Simone. Positivo e Negativo. @isaacmendes7


O movimento artístico chamado Stencil Art, feito na rua e para a rua e que usa como suporte as paredes das cidades, tem ganhado ao longo dos últimos anos cada vez mais visibilidade e possibilitado que artistas utilizem este meio como forma de expressão, com desenhos cada vez mais elaborados, com o suporte tecnológico que amplia as possibilidades dos artistas, que criam imagens com várias camadas e cores, permitindo aplicar nas paredes pinturas realistas de alta qualidade. Essa técnica traz a vantagem da reutilização da forma matriz para reproduzir rapidamente, em variados locais, a mesma letra e/ou desenho. 

Arte Urbana de Banksy

No stencil graffiti, geralmente predomina a figura sem o texto, no intuito de estabelecer uma rápida assimilação do que se quer comunicar. No entanto, também é possível produzir matrizes em que o texto é a mensagem principal. Para Santos (2010, p. 21), tais frases surgem por vezes, normalmente curtas, com a intenção de transmitir uma determinada mensagem com grande carga a nível social, perante os seus problemas e controvérsias, para que estes não passem despercebidos e em outros casos trata-se de frases que ilustram mensagens de cunho pessoal, dedicadas particularmente a alguém mais próximo. A poesia concreta também é bastante utilizada nas intervenções urbanas de stencil.


Muro da Brinquedoteca Ludocriarte. Foto: @isaacmendes7


Poesia concreta: Arnaldo Antunes


É nesse contexto que surge o Defenestra Stencil, um coletivo de artistas atuantes no território de São Sebastião que busca, por meio das artes visuais (graffiti stencil, lambes, stickers e zines), difundir poesia e filosofia urbana a fim de estabelecer críticas sociais e conexões simbólicas dentro do território, ocupando os muros com imagens/mensagens que dialogam com as diversas culturas (global e local) e ressignificam a paisagem, estimulando assim novas perspectivas e formas de se ver/ler o lugar e a si mesmo. 

Jardim Botânico III - Foto: @giocondaguedes

Quadra 104. Foto: @isaacmendes7

O coletivo acredita na linguagem do stencil enquanto arte, cultura e na sua importância para a construção de identidades, narrativas visuais e comunicação no território, como forma de ressignificar e democratizar a paisagem urbana. Nesse sentido, a Internet torna-se uma poderosa ferramenta para ampliar o alcance da comunicação, já que através dela pode-se discutir a intencionalidade de cada gravura, trocar impressões e imagens, e ainda realizar projetos coletivos. O que se verifica nos trabalhos dos artistas idealizadores, espalhados por diferentes lugares do Brasil, mas sobretudo no Distrito Federal, em São Sebastião, que estão sendo reunidos e mapeados em um perfil no Instagram que pode ser acessado clicando aqui.

Foto: @coletivomob


A ideia é levar o stencil como linguagem a ser apreendida e percebida para os mais variados lugares. Ainda que na rua o resultado seja mais orgânico e conectado com sua essência subversiva, o projeto pretende iniciar um movimento de difusão das possibilidades artísticas e comunicativas do stencil dentro do ambiente acadêmico, possibilitando a livre expressão e o surgimento de artistas e comunicadores visuais, além de espalhar obras que estimulem a reflexão, modifique de forma positiva atitudes e valores e contribua assim para a construção social de sujeitos político-artísticos.

Tão logo for possível, o coletivo realizará uma Oficina de introdução a Arte do Estêncil que acontecerá entre os meses de abril, maio e junho, no IFB - Campus São Sebastião, fruto de uma parceria com a LudoIF. Fique de olho no Instagram @defenestrazine para não perder o dia da inscrição. 

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