Mutirão de plantio do cerrado às margens do São Bartolomeu

 

Foto: Paulo Henrique Linhares (PH)

Aconteceu nesse sábado (21 de novembro de 2020) o mutirão de plantio do cerrado às margens do rio São Bartolomeu, na fazenda Barthô Naif*, localizada no Capão Cumprido, território rural de São Sebastião. A iniciativa partiu do proprietário Odecio Garcia, agrônomo aposentado e contou com o apoio de diversos parceiros.

Foto: Geoffrey Roy - @travelnroll

A proposta tem como premissa a sustentabilidade por meio do semear e plantio de árvores a fim de preservar a bacia do São Bartolomeu e consequentemente diminuir os impactos das crises hídricas que assolam a região do DF em ciclos cada vez mais próximos.

Foto: @phideias

Foto: Geoffrey Roy - @travelnroll

Composto por morros e uma fauna e flora bastante diversa, o relevo e a paisagem da área chamam atenção pela exuberância. Angicos, copaíbas, perobas, pequizeiros, jacarandás, ipês, jatobás, cagaitas, pau-brasil, guapuruvus, sibipirunas etc. embelezam a paisagem da região e que ao longo dos anos vem sendo recuperada por ações como essa, garantindo, por exemplo, o afloramento de nascentes. Compõem também a paisagem, as carcaças de carros espalhadas pela área, usadas como tela para graffitis de diversos artistas, como Gurulino.

Paulo Dagomé e eu

Dedé Poeta, Paulo Dagomé e eu 

Meu amigo PH e eu

Foto: Isaac Mendes

Foto: Geoffrey Roy - @travelnroll

Foto: Isaac Mendes

Para que o encontro pudesse acontecer, o público foi orientado quanto às medidas de prevenção em relação à pandemia do novo coronavírus: distanciamento, uso de máscara e álcool em gel.

Foto: Isaac Mendes

A ação iniciou com uma fala de Odecio sobre a importância de se preservar o cerrado e de olharmos para a questão hídrica. As primeiras árvores plantadas na área foram por meio do projeto São Bartolomeu vivo (parceria entre Fundação Banco do Brasil e BNDES) que aconteceu em 2008. A proposta seguiu três eixos principais: cuidar das pessoas, cuidar das águas e cuidar do cerrado. Ou seja, além de plantar árvores, também era necessário envolver a comunidade, as lideranças e os moradores/as da região. A partir de então, todo ano acontece uma celebração com muita comida, bebida, momento cultural e uma ação para plantar árvores e semear água.

O pontapé inicial da parte cultural ficou sob a responsabilidade de Dedé, da Banca de Poetas e de Calcifer Zecaiê, do Movimento Cultural Supernova. Ambos recitaram poesias e forraram o momento com a mágica das palavras.


Neste ano, mesmo no contexto de pandemia, a tradição foi mantida. O mutirão para plantio aconteceu e foi regado a música, poesia, comidas e bebidas gostosas. Os trabalhadores da fazenda prepararam todo o terreno, cavando 350 buracos e cultivando as mudas de limoeiros para o plantio. Antes de colocarmos a mão na terra, fizemos um longo passeio pela área e nos foi apresentado as metodologias agroecológicas utilizadas no lugar (técnica da Muvuva, agricultura sintrópica, produção de insumos a partir da casca do coco etc). A caminhada, conduzida por Dedé Poeta que ao longo do percurso explanou sobre os projetos e ações desenvolvidas na fazenda Barthô Naif, foi também uma valiosa oportunidade de aprendizado sobre o cerrado e suas fitofisionomias.

Foto: Geoffrey Roy - @travelnroll

Depois disso, os plantadores puderam enfim meter a mão na terra e plantar as cercas de 300 mudas de limoeiros produzidas no viveiro da fazenda. Todas as orientações sobre como plantar, apalpar a terra, retirar a muda dos sacos, jogar a terra preta por cima, quebrar as pedras de cal, foram dadas e tivemos um longo momento de envolvimento direto com a Pachamama. Eu contei com as orientações do professor Paulo Henrique Linhares, o PH, meu amigo de longa data e um grande pesquisador das técnicas de jardinagem e paisagismo. Embora estivéssemos no período das chuvas, nesse dia o clima contribui e o sol se manteve intenso e brilhante, castigando aqueles que não estavam usando chapéu ou protetor solar. 

Foto: Isaac Mendes

Foto: @phideias

Foto: @phideias

Foto: @phideias

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes


Mas a recompensa veio em seguida, pois o Aninho, produtor das cervejas Dona Maria, levou 20 litros de Chopp para degustação. A Hoper Lager leve e refrescante desceu como um oásis no deserto. A cervejaria Dona Maria é produzida artesanalmente na região de sobradinho tem ampliado cada vez mais a sua distribuição. O processo de produção da cerveja é atravessado pela consciência ecológica, sustentabilidade e a valorização do cerrado, utilizando em diversas receitas, frutas típicas desse nosso rico bioma. Se você é um apreciador da arte cervejeira, com certeza irá curtir os produtos Dona Maria.

Foto: Isaac Mendes

O momento musical foi iniciado por Morello que mandou um repertório riquíssimo de músicas populares brasileiras. Na sequência, uma das maiores artistas de São Sebastião, a cantora Gaby Viola, tomou do microfone para nos presentear com uma belíssima apresentação. Com uma voz afinadíssima e uma habilidade fora do comum para pulsar rítmica e melodicamente entre trastes e cordas, Gaby e sua viola caipira mantêm viva a cultura sertaneja no território. Sem dúvida um grande privilégio para os presentes que puderam apreciar e se emocionar com seu repertório. Uma das canções foi em homenagem ao aniversariante do dia: Geoffrey Roy, Jojô, um viajante de naturalidade francesa, que tem se aventurado mundo à fora de forma alternativa, tendo por exemplo, saído de Pequim até a França, sem dinheiro algum. O francês falou sobre suas experiências como cosmopolita e da amorosidade e afetividade com as quais foi acolhido no Brasil. Jojô não ficará muito tempo por essas paragens, pois já está articulando um encontro com Pepe Mujica no Uruguay para, então, voltar à França de bicicleta e veleiro, numa viagem de mais de mil quilômetros. A homenagem pelo seu aniversário não foi apenas da Gaby. Beth e Luiza também cantaram Feliz aniversário, poema de Manuel Bandeira musicado por Villa Lobos. Isaac Mendes, do Movimento Cultural Supernova e da Ludocriarte, continuou a cantoria e animou ainda mais o público com canções de Xangai, Belchior, Alceu Valença, Cidade Negra etc. e contou com o auxílio luxuoso de Gaby Viola no cajón.

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Foto: Isaac Mendes

Aqui segue um trechinho da fala do Jojô. Para ouvir sua fala na íntegra, assista ao vídeo. Quem quiser, também pode acompanhar seu trabalho foto jornalístico e suas aventuras ao redor do mundo por meio do seu perfil no instagram: @travelnroll

"Eu estou nas estradas do nosso planeta há 8 anos, eu tô quase sempre andando de carona, ficando numa diversidade de um pouco de tudo: aventuras, loucuras... mas sempre essa coisa de que vem conectar com essa linda e grande diversidade da humanidade e isso faz uma aprendizagem ser resultado do que é a raiz do ser humano, que a nossa função é cuidar da vida, ser o que eu chamo: os guerreiros da paz, os guerreiros do vivo! Estar aqui para plantar, estar aqui para celebrar a vida. Ao chegar aqui no Brasil eu fiz um desafio de chegar nesse país, desde a França, com a força do vento, num veleiro, de carona num veleiro, três meses para chegar aqui no Brasil, com muita esperança, sabendo que o País está passando por uma situação complexa, nessa mudança histórica de governo, mas sabendo que atrás da sombra sempre tem luz e eu já tô vendo muita luz. Antes disso, eu fiz uma coisa ainda mais louca, mais profunda e mais linda, eu fiz um desafio de viajar desde Pequim, na China, até Paris, na França, em dois meses, sem nenhum dinheiro no bolso, pra testemunhar da humanidade, a generosidade e beleza, mostrar que existe no mundo uma verdadeira bondade, falar um pouco também sobre situação da sociedade atual, do capitalismo extremo, do crescer sem fim e então mostrar um modelo que devia ser mais justo e consumir menos, o que eu chamo: a sobriedade feliz, consumir menos pra ter mais tempo pra ser mais feliz, pra ser mais conectado ao outro, à terra..."

Foto: Isaac Mendes 



A última atividade do dia foi um passeio até a beira do Rio São Bartolomeu, onde tivemos uma rica conversa sobre a bacia do São Bartolomeu e o banco de germoplasma que vem sendo produzido ao longo desses anos na fazenda Barthô Naif. Jefferson Oliveira falou sobre o potencial do rio que distribui recurso hídrico tanto no território brasileiro, quanto para outros países da américa latina, por exemplo, se saíssemos do ponto onde estávamos navegando em um barco, em poucos dias chegaríamos no Rio da Prata, na Argentina.  

Foto: Isaac Mendes

Foto: Geoffrey Roy - @travelnroll

Todo o encontro foi permeado de histórias e de muita afetividade e consciência. Uma pequena ação, mas que à medida que se torna tradição, vai abarcando cada vez mais pessoas, conectando e fortalecendo mais ações em prol do meio ambiente e da preservação da vida na terra.

Fica o convite: explore e conheça mais sobre o território em que vive. São Sebas é uma grande potência ambiental, agroecológica, cultural e territorial. Aos poucos as conexões são estabelecidas e a esperança se desenha ainda mais radiante no horizonte. Viva a força do nosso lugar!


Foto Neide Sousa

Foto: Isaac Mendes

*A arte Naif (ingênuo, primitivo, arte pura), similar a arte popular, tem a origem na zona rural da Europa, com um viés dos agricultores de origem camponesa que se expressavam relatando o cotidiano da lida no campo: as colheitas das frutas, os animais, o mundo rural. A arte Naif ganha novo significado com Henry Rosseau quando passou a ser considerada uma arte contemporânea. Chegou ao Brasil no começo do século passado, com Heitor dos Prazeres, Chico de Assis, Dila, Cardosinho etc. Retrata a realidade do que o povo vive.



Eu Isaac

5 comentários:

  1. Maravilha. Quero participar na próxima!!!

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    1. Blz!! Esteja super convidade! Depois entra em contato lá no insta, face ou twitter que aí fica fácil de te marcar nas próximas.

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  2. Show de bola... tive filmagens e não pude comparecer... parabéns a todos.

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  3. Show de bola... tive filmagens e não pude comparecer... parabéns a todos.

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  4. Que história linda! Se eu não fosse idade de risco ,queria estar com vcs plantando por aí ! Toda fruta que como ,eu planto a semente. Nesta Pandemia já plantei mais de cem sementes.Depois vou doar. Parabéns Barto!parabéns a todos os plantadores,!

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