Isaac Mendes: Seminário encerra as atividades do projeto Ação em Rede

Aconteceu nesse último final de semana (09.11.19) o III Seminário Ação em Rede, realizado pela Associação Ludocriarte em parceria com o IFB - Campus São Sebastião e diversas organizações da sociedade civil atuantes no território.

O seminário foi parte do projeto AÇÃO EM REDE e encerrou uma caminhada de um ano ao lado de 07 Organizações da Sociedade Civil (OSC’s) atuantes no território de São Sebastião que participaram ativamente do processo de fortalecimento, qualificação e ordenamento jurídico-contábil para atuarem na execução de Políticas Públicas no campo da infância e juventude. Cerca de 60 pessoas estiveram presentes na atividade.

São Sebastião é reconhecida pela forte atuação de diversas Organizações da Sociedade Civil no campo da arte, cultura, educação e assistência social. Mesmo assim, durante muitos anos (2007 a 2016) o Fórum de Entidades Sociais que esteve ativo na organização e mobilização desses grupos, identificou fragilidades no processo de ordenamento institucional dessas organizações, tais como: ausência de instrumentais técnico-profissionais, como planejamento estratégico das ações, dificuldade para captar, mobilizar recursos, prestar contas etc.

É nesse contexto que surge a proposta de formação do Projeto Ação em Rede que realizou, ao longo de um ano, 512 horas de atividades formativas, supervisão metodológica, oficinas temáticas de formação e qualificação, seminários, acompanhamento contábil-jurídico e participação política dos jovens participantes, beneficiando diretamente 21 bolsistas e 21 dirigentes.

As oficinas temáticas de capacitação, formação e qualificação foram elaboradas pela D&M consultoria representada por Dilma Rodrigues e Milda Moraes que abordaram uma metodologia calcada nos princípios da Educação Popular. Os conteúdos abarcaram três grandes eixos: princípios, fundamentos teóricos práticos e gestão institucional, governança no terceiro setor e sustentabilidade institucional.

O acompanhamento jurídico-contábil ficou sob a responsabilidade da Flores Contabilidade, representada por Cida Flores e Renata Melo. A grande missão das duas profissionais foi iniciar o processo de cadastramento das 07 organizações junto ao CDCA/DF, auxiliando na elaboração do plano de trabalho, reformulações de estatutos e contabilidade.

Foram realizados 3 seminários ao longo desse período que contou com ampla participação da comunidade e com a parceria do IFB – Campus São Sebastião. O primeiro seminário abordou o tema Crianças e Adolescentes no circuito das Políticas Públicas, o segundo abordou a temática Governança no Terceiro Setor e o último trouxe reflexões acerca da sustentabilidade financeira das OSC’S: como captar recursos. Foram convidados para palestrar, dois grandes nomes: Fábio Deboni (DF) e Carol Zanoti (SP).

O encontro iniciou com a apresentação do projeto e os agradecimentos de Milda Moraes. Em sua apresentação de slides, ela apresentou o percurso e o crescimento de cada uma das instituições e da equipe que trabalhou unida para executar o projeto com qualidade e objetividade. Milda presenteou a Ludocriarte com um lindo quadro de São Francisco de Assis. Na sequência rolou um bate papo descontraído com Isaac Mendes. Três jovens e três dirigentes representaram suas instituições. Eduarda Sousa (Evolução), Quezia Santos (ATBR) e Caio Augusto (Casa de Cultura) representaram os 21 bolsistas integrantes do projeto e Roberto Santos (SSEC), Francisco Temóteo (Nação Zumbi) e Ana Carolina (Projeto Campeão) representaram os dirigentes das 07 organizações participantes. Os jovens falaram sobre a importância do projeto em suas vidas, os momentos mais marcantes e o aprendizado que tiveram ao longo desse tempo. Os dirigentes destacaram o crescimento de suas instituições, a possibilidade de atuar junto aos jovens, quebrando o paradigma de que o corpo diretivo da organização é sempre composto pelos "velhos" e refletiram sobre os novos desafios que terão pela frente.

Em seguida, Dilma Rodrigues convidou o primeiro palestrante do dia para apresentar a temática. Fábio Deboni, Engenheiro Agrônomo, mestre em recursos florestais pela ESALQ/USP, gerente-executivo do Instituto Sabin e membro do Conselho do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) trouxe importantes considerações sobre o tema proposto a partir da sua vasta experiência e engajamento em institutos e fundações, no campo das finanças sociais e negócios de impacto. Fábio iniciou apresentando o contexto atual do terceiro setor. Captadores vs. Investidores, transparência (compliance), relevância socioambiental, redução do investimento por parte do poder na área do terceiro setor etc. O palestrante convidado trouxe uma importante reflexão sobre geração de receita e pensamento corporativo. “Será que as ONG’s sabem ser um negócio?”. Fábio destacou 7 pontos principais onde as organizações têm falhado: Cultura organizacional, relações frágeis com os financiadores, erros de aproximação com os mesmos, atrasos na entrega dos produtos, pós-venda e diversificação. Por fim, nos apresentou projetos inspiradores no DF, tais como: Casa do Carinho, Centro Social Luterano Cantinho do Girassol, Amigos da Vida, Me viro, Abrace, Revista Traços etc. Fábio também é escritor de diversos artigos e está lançando seu novo livro - Impacto na Encruzilhada - disponível aqui: https://mymag.com.br/.

A segunda palestrante do dia foi a associada e membro do conselho consultivo da Diálogo Social – Instituto Filantropia, Sra. Carol Zanoti. Teóloga e filósofa graduada pela FAI/SP, atua há mais de 30 anos na área social, com especialidade em desenvolvimento, acompanhamento e avaliação de projetos, capacitação socioeducacional, arquitetura institucional e planejamento estratégico. Carol nos apresentou uma outra perspectiva na forma de lidar com recursos. "Ao invés de captar, devemos mobilizar recursos" que abrange apoio político, de recursos humanos, materiais e financeiros próprios e/ou de terceiros. Carol destacou que mobilizamos recursos para uma causa, não para a instituição e nos lembrou que não somos mais entidades sem fins lucrativos, pois, a partir do MROSC, as instituições passaram a ser organismos vivos (organizações sociais). Destacou também que quando olhamos para as potencialidades do que temos, saímos do papel de "colonizador", de "salvador do mundo", e vamos para um papel de cocriador, reconhecendo o outro e as potencialidades presentes no território. Outro ponto levantado por Carol Zanoti é que muitas OSC’s confundem causa com público-alvo. “Causa é a situação que comove, é a finalidade, mas esta não deve focar na miséria e sim nas potencialidades. É algo contextualizado.”, explica. Para exemplificar, ela falou da causa da assistência social no Brasil: “fortalecer vínculos e convivência”. De acordo com a especialista é fundamental ter muita clareza da causa da organização, já que os objetivos devem ser pensados a partir dela, e introduziu o conceito de tecnologia socioambiental.

Após a fala de Carol, aconteceu um rico momento de debate onde o público teve a oportunidade de compartilhar seus anseios e dúvidas com os palestrantes. Ao final, foi realizada a entrega dos certificados para os 21 jovens bolsistas e 21 dirigentes das 07 instituições participantes que celebraram e cantaram juntos a música “A paz é a gente que faz”.

Aprendemos muito nesta trajetória, partindo de nossa realidade coletiva e transversal e maturamos em grupo instrumentos para o desenvolvimento institucional das nossas organizações. Assim, compreendemos que contribuímos para o fortalecimento no Terceiro Setor, oferecendo ferramentas para enfrentar os principais desafios postos pela atual conjuntura brasileira e estimulando o exercício criativo da sustentabilidade.