O Movimento Sociocultural Supernova realizou no dia 30 de
março a Noite Supernova que marcou o encerramento da I Virada Feminista do DF –
contra os fundamentalismos.
Antes de discorrer sobre o evento acho curioso falar sobre o
incômodo que uma imagem, presente no flyer de divulgação do evento, de uma
mulher deitada na cama, sem sutiã, causou. Essa imagem foi amplamente
discutida no grupo de mulheres do Supernova. E a Nanah convenceu a tod@s sobre
o porquê não era tão inconveniente assim. Em parte, o incômodo ocorre, pois queremos
sempre ver imagens de mulheres comportadas e uma mulher deitada, à vontade no
seu quarto, pensando na vida, sem dever satisfação a ninguém não parece seguir
o estereótipo dessa idealização de mulher. Tem-se que levar em consideração
também que não aparece homem ao lado dela pra pressupor que se insinuasse pra
ninguém, nem parece que estivesse fazendo pose sensual também. Mas o importante
é que não é a exposição do corpo da mulher e, segundo Jéssica Martins, mesmo
que possa levar a pensar em sensualidade, não podemos negar que uma das lutas
das mulheres é serem donas de sua própria sexualidade e exercerem a liberdade
do seu próprio desejo. Não é expor, mas não ter vergonha de se assumirem como
seres sexuais também, que também possuem desejos, e não estão aí somente para a
satisfação dos desejos d@s parceir@s.
Nem Santas, nem Putas!
O debate iniciou com a fala de Jéssica Martins, que conduziu
a primeira parte do evento onde foi colocado em xeque o machismo, implícito nas
ações do nosso cotidiano e a questão inicial levantada foi: Como você se sente
quando... ?
O evento contou com uma belíssima exposição de fotos disponibilizadas
pelo Ponto de Memória da Estrutural, que é um museu popular, auto gestionário,
gerido por representantes da comunidade, com foco na reflexão sobre identidade,
pertencimento, movimentos sociais e culturais e com base no protagonismo
daqueles que habitam, participam e fazem a história da comunidade.
Essa é a segunda exposição, que vem deste o ano passado com tema Mulher: a mulher que luta pela dignidade. Ao observar as fotos nos
perguntamos qual o vínculo das pessoas com a cidade?
A exposição é de fotos das mulheres da Estrutural e outras
como Olga Benário, presidente Dilma, Estamira etc. E outra parte do acervo são
fotos do dia a dia e uns espelhos, para que as mulheres se reconheçam como
partícipes dessa homenagem.
As
pessoas foram chegando ao decorrer do debate, mas iniciamos com a presença de Jéssica Supernova, Zeca Supernova, Eu Supernova, Estela
Supernova, Priscila Supernova, Fábio INESP projeto Onda, Tatiana Projeto Onda
Estrutural, Eadson, Anne, Francisco Neri, Vania Professora Projeto Social
Estrutural, Aparecida Supernova, Polyana Costa Jornal Daqui, Silvia Serviço
Social, Cleia Pedagoga, Márcia Coordenadora, Paulo Supernova, Chibi Supernova
Artista Plástica, Chico Rosa Baterista Supernova, Roberto Movimento Hip Hop, Nanah
Farias Supernova, Leide mãe da Jéssica, Iara Supernova estudante de Direito, Nanda
Supernova Atriz UnB, Marissa Pedagoga Supernova, Sara supernova, Benaia Lopes, Erika Kokay, Bancaria, Deputada Federal, que fez uma belíssima fala sobre a
questão em pauta: A mulher. Erika disse que a cultura é uma coisa que faz com
que a gente se reconheça como seres humanos e históricos. A gente vai se
fazendo como fruto das nossas ações e quando pensamos em grupo pensamos em
semente. Sobre o Movimento Supernova disse que este procura entender o mundo e
se entender no mundo, (re)significando-se sempre e que isso vale também pras
mulheres. É um pouco esse misto de memória e se situar nessa história.
"Não somos donos da vida. Mas sim da trama da vida. Podemos pegar a vida pelas mãos
e transforma-la. Nós não conseguimos nos identificar como seres humanos se não
nos vermos como sujeito."
Erika falou da lógica patriarcal e fez uma incursão na
história do Brasil da escravidão à ditadura. É necessário que mergulhemos a
fundo nessa história para nos entender, pois o movimento que a história faz
naturaliza o que não é para ser naturalizado e não conseguimos depois entender
que na violação de certos direitos, estão ainda presente os resquícios do pensamento
colonialista, da ditadura.
A Deputada falou também da construção de uma sociedade mais igualitária, onde todas as pessoas independentes de como são e amam, tenham os mesmo direitos, ou vamos continuar numa sociedade onde as pessoas tem cada vez mais medo da própria vida. Vivemos numa sociedade que tem medo, resultado dessa história desumanizante. E quando se tem medo não se consegue sentir a vida, sentir-se a si mesmo, reconhecer os seus desejos.
Como é possível pensar no ser humano sem desejo? Se a mulher
não é dona do seu desejo, da sua historia, como vai se encarar como ser
humano?
Essa discussão tem uma lógica mais ampla. Estamos falando de
um extermínio de uma geração. Como romper com isso sem colocar na agenda do
legislativo, dos governos, do judiciário, as defesas dos direitos do ser humano? Esta defesa tem que estar no centro de todas as discussões.
A violência doméstica também entrou em questão. Essa violência provoca um processo de desterritorialização. A mulher, no caso, fica sem chão e começa a sofrer uma série de assédios, então vai cedendo para apostar na relação. Sentindo-se culpada por ter medo e fazer a relação ir mal. Quando a casa fica suja ela se sente culpada, quando ela tem que sair ela se sente culpada, quando o marido a trai, ela se sente culpada. É culpa de mais! A culpa é um instrumento de dominação. E quando ela olha dentro dela, já não é mais ninguém, é simplesmente objeto de desejo do homem. É o mesmo processo da tortura. E esse processo de desumanização vai se naturalizando. Mas não é natural. Tem que ser desconstruído. Por isso a necessidade em se investir na construção de políticas públicas que possibilitem as pessoas serem elas mesmas, compartilhar suas angustias e conquistas. O GDF, os militantes locais, temos que puxar a agenda dos Direitos Humanos para a centralidade dessas políticas. Pensar a saúde, a educação, a cultura com o recorte das mulheres. E tem que ser feito uma campanha permanente. Senão não tem saída.
As pesquisas indicam que 70% das mulheres vitimas de violência sofrem os abusos na presença dos filhos. Estes tendem a naturalizar a violência e resolver os conflitos através da violência pois tornou-se natural agir assim. Isso faz com que os meninos aprendam que numa situação de conflito ele use da sua força e oprima o mais fraco.
A violência doméstica também entrou em questão. Essa violência provoca um processo de desterritorialização. A mulher, no caso, fica sem chão e começa a sofrer uma série de assédios, então vai cedendo para apostar na relação. Sentindo-se culpada por ter medo e fazer a relação ir mal. Quando a casa fica suja ela se sente culpada, quando ela tem que sair ela se sente culpada, quando o marido a trai, ela se sente culpada. É culpa de mais! A culpa é um instrumento de dominação. E quando ela olha dentro dela, já não é mais ninguém, é simplesmente objeto de desejo do homem. É o mesmo processo da tortura. E esse processo de desumanização vai se naturalizando. Mas não é natural. Tem que ser desconstruído. Por isso a necessidade em se investir na construção de políticas públicas que possibilitem as pessoas serem elas mesmas, compartilhar suas angustias e conquistas. O GDF, os militantes locais, temos que puxar a agenda dos Direitos Humanos para a centralidade dessas políticas. Pensar a saúde, a educação, a cultura com o recorte das mulheres. E tem que ser feito uma campanha permanente. Senão não tem saída.
As pesquisas indicam que 70% das mulheres vitimas de violência sofrem os abusos na presença dos filhos. Estes tendem a naturalizar a violência e resolver os conflitos através da violência pois tornou-se natural agir assim. Isso faz com que os meninos aprendam que numa situação de conflito ele use da sua força e oprima o mais fraco.
A discussão da violência contra a mulher se expressa de tantas
formas, não é só aquela que deixa o hematoma, mas a violência patrimonial,
moral, física e que na maioria das vezes é uma violência silenciosa, disfarçada
numa lógica machista. Se investigar-se a faca que mata uma mulher, é fato que foi antes
afiada pela lógica machista. Tem-se que identificar os opressores.
A Deputada finalizou citando Simone de Bevouir: “O que nós mulheres queremos é o poder de sermos nós mesmas.”
A importância do que a Erika falou é a de criar espaços de fala, e certamente o Movimento Sociocultural Supernova proporciona esses espaços.
Nanah Farias fez um depoimento emocionante sobre sua história de
vida, marcada por muita violência. Ela é feminista e bate o pé! E diz mais: “Ser
feminista não significa que vamos odiar os homens.” E cita também que há um grande problema que é: "a mulher,
nem ninguém, sozinha não aguenta fazer todos os afazeres de casa não. Todos tem
que participar."
Marissa também falou sobre a fala da Erika, colocando essa
problemática da situação da mulher na perspectiva da escola.
A fala de Edvair Ribeiro também foi um ponto alto do debate e aqui vocês podem conferir seu depoimento.
Chiquinho Batera também entrou na discussão e falou da naturalização dos preconceitos.
Anne disse que achou interessante a fala da Erika e o seu
ponto de vista sobre a “naturalização”. Ela vê o machismo impregnado na nossa
sociedade, quando mulheres que são tratadas como “carne”, a serem sujeitados a
sofrerem assédio, não cobrir matérias de manifestação por serem frágeis, condições
indignas de emprego: não poder engravidar ser a “escraviária”, Ela da o exemplo
do cara que dá cantadas horríveis, falando da bunda, que é gostosa, que quer
comer. Cantada é um assédio sexual descarado, público e que não deve continuar
aceito nem ser visto como natural. Disse mais: “o machismo também existe nas
mulheres.” Anne já sofreu agressões. Ela diz que os seus agressores não se veem
como agressores. São psicopatas.
Chibi contou que também sofreu violência doméstica. A mulher
não apanha porque quer. Na cabeça dela ela tinha total dependência. Ela podia
ir a uma delegacia, ao conselho, mas ela não sabia. Ela havia construído uma
série de fatores que impediam-na de fazer algo. Essas opressões causaram muitos
traumas.
A participação foi intensa. Os presentes sentiram-se à
vontade para contar suas experiências, história de vida, pontos de vista etc.
Parabéns a tod@s @s participantes desse momento belíssimo de acolhimento, integração
e aprendizado.
O sarau começou com a apresentação de Estela Sena e Bia
Estiano, voz e violão. Juh Rodrigues, Priscila Sena, Kezia Beatriz recitaram
poesia. Jessica Alves apresentou-se com a sua banda. Nanda Pimenta fez uma performance
poética inovadora e tocante. Jozzy Jordão também nos emocionou com a sua dança.
O Trio Trinca flor, sacou a viola, soou a alfaia e o pandeiro e nos colocou
para dançar um forró do bom.
Agradecimento especial a todas as mulheres que mostraram a
sua força e garra nessa luta do fazer cultural e fizeram dessa Noite Supernova mais bela e feminina.
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