Saída de campo. Alto Paraíso de Goiás - GO e Chapada dos Veadeiros

Saímos da faculdade de Educação por volta das 18h00min. Durante a viagem foi distribuído o caderno de campo e a revista Darci onde continha uma reportagem que fala do projeto da professora Rosangela sobre educação ecológica: o AbCerrado e a matomática.

Li um pouco da revista durante a viagem, depois joguei uno com Sara, Bianca, Carol e Thais. Foi bem divertido. Depois do jogo cantamos algumas canções ao som do violão. A professora Maria Lídia se achegou e cantou o Samba da benção, de Vinícius de Moraes e Baden Powell, que diz que é preciso que o samba tenha um pouco de tristeza. Momento este que já demonstrou a beleza da nossa saída de campo.

Um dos momentos mais emocionantes durante a ida foi a travessia da ponte. Foi preciso uma manobra arriscadíssima do Amadeu. Festejamos quando atravessamos.
Chegamos em São João da Aliança, por volta da 21h00min hora. Ficamos hospedados na chácara Rebendoleng. Era uma noite chuvosa. Fomos conhecer nosso chalé e em seguida fomos jantar. No divertimos bastante nesse momento, principalmente por conta de uma pimenta fortíssima que o seu Geraldo nos ofereceu. Tomamos também um pouco de licor feito de vassourinha (planta típica do cerrado), jenipapo e jabuticaba. Após o jantar nos reunimos pra falarmos um pouco do por que estarmos ali e como seriam as atividades dos próximos dias. Apresentamo-nos. Eu falei bastante sobre meus trabalhos e projetos. Toquei algumas canções, o pessoal foi dormir. Fiquei Eu, Thais e Michele conversando com seu Geraldo e dona Marlene durante a madrugada. Seu Geraldo contou vários causos sobre histórias que seriam de assombração, mas que sempre tinham um final simples. Contou, por exemplo, que certa quando era criança, fez uma cruz de pequenos pedaços de madeira e colocou na beira da estrada o que causou o maior rebuliço na cidade. As pessoas levaram a cruz para ser benta pelo padre, o padre disse que aquilo era um trabalho de magia negra que tinha sido feito contra a família dona das terras onde foi encontrada a cruz. Contou que, por coincidência o cunhado do dono das terras morreu num acidente de carroça. Ele disse que nunca contou pra ninguém que foi ele quem colocou a cruz.

Parceria que deu certo - Samba da benção

Fui dormir. Demorei a pegar no sono. Choveu bastante durante a madrugada. Hora boa para pensar sobre as minhas ações nesses últimos meses. Dormi pouco.

26/01

Acordamos cedo. Tomamos um café da manha reforçado: caldo de cana, pão caseiro, bolo de banana, geleia de jabuticaba etc. Durante essa confraternização matinal joguei duas partidas de xadrez com o Thiago e a Carol. Contendedores fortes.

xadrez com Carol

Em Rebendoleng

Quando terminamos de esse momento fomos fazer uma trilha pela Rebendoleng. Conhecemos algumas plantas nativas do cerrado, aprendemos sobre o processo de dormência de algumas sementes do cerrado, sobre a queda das folhas caducifólias e que as manchas presentes no caule de algumas árvores ou a não existência de determinadas plantas significam a saúde daquela área do cerrado. Durante a caminhada chegamos numa área que mostrava como a vegetação do cerrado pode entrar em desequilíbrio por conta da ação do homem. Vimos que as braquiárias são uma praga no cerrado e que já estava se alastrando por uma área bem grande da Rebendoleng. Vimos uma área de mata ciliar que está passando por um processo de erosão. Paramos em determinado momento, fizemos um momento de reflexão, respirar fundo, sentir a natureza.

Ao chegar novamente no espaço di prosa, tivemos uma conversa com o seu Geraldo. Conversa esta toda gravada.

conversa com seu Geraldo sobre Permacultura

Fomos em direção a Comunidade da fraternidade. Chegamos no começo da tarde para uma palestra com a professora Rosangela Correia. Houve um momento para apresentação, onde conhecemos os professores e alguns moradores do assentamento Silvio Rodrigues onde existem 119 famílias assentadas. (Silvio Rodrigues foi um grande lutador na questão da reforma agrária, por isso o assentamento tem o seu nome).

Cidade da Fraternidade

A Cidade da fraternidade surgiu com a ideia de abrigar crianças órfãs décadas atrás e começou como uma entidade espírita. Recebe pessoas do Brasil inteiro, principalmente na época do carnaval, para uma espécie de retiro espiritual. Algumas das pessoas que começaram a trabalhar na escola da comunidade vieram de São Paulo, outras de Minas. Essa escola é particular, filantrópica e faz uma parceria com o estado. Os funcionários aqui são concursados cedidos para a instituição. As salas de aula atendem poucos alunos. No total são treze professores e poucos ensinam uma só matéria.

A jornada de trabalho desses professores é ampliada e no contra turno são oferecida atividades de dança, teatro etc. As crianças vêm de longe. De lugares de até 20 km de distância.

Algumas professoras falaram das dificuldades de se trabalhar lá. Citaram por exemplo que a escola tem o convênio com o estado, mas que trabalham através de projetos, por exemplo, quando escrevem projetos solicitando a reforma do centro para convivência social, construção de campos de futebol, pista de atletismo e acabam ficando somente no papel por serem caros.

Quanto ao assentamento, este começou em Novembro de 2003. O INCRA terminou as casas e agora o que tem que ser feito é produzir, mas eles não têm patrulha agrícola e que metade das 119 famílias não tem água, nem energia elétrica. Por conta disso, há certo desanimo. Então eles estão na busca de parceiros para poder trazer melhorias.

Por essa área não ser particular, o INCRA achou interessante fazer o assentamento, pois estava tendo muita grilagem de terra. Hoje em dia eles têm uma licença previa do IBAMA, mas ainda não tem a permanente.

Do MST, esse é o único assentamento que tem casa de até 15 mil reais construídas. O meio ambiente é muito favorável para a comunidade, pois tem muita madeira, uma reserva ecológica legal.

O encontro de jovens COMEMOFRA. Encontro para discutir questões ecológicas tendo como tema a Permacultura. A ideia do curso é que as pessoas venham pra cá aprender a trabalhar com essas novas maneiras de trabalhar com o material de construção.

A maioria dos assentados não tem água encanada. Então foram surgindo ideias, por exemplo, a de construírem cisternas para armazenamento de água da chuva. Um grupo se uniu em prol dessa causa, elaboraram um projeto e conseguiram reunir cerca de quinze pessoas (envolvendo todas as gerações) que ajudaram a fazer a cisterna e a partir da segunda que foi feita elas já passaram a ser sustentáveis. Agora a ideia é compartilhar a técnica de feitura dessas cisternas.

Nem tudo é plantado no assentamento, pois é preciso licença ambiental, mas eles já plantam verduras, milho, feijão em pequenas quantidades. Os assentados receberam um kit paz, que ensina como fazer a horta em forma de mandala, produzindo assim alimentos completamente orgânicos.

Tem algumas famílias que entregam seus alimentos para a CONAI, CONAB, recebendo assim recursos do governo. Mas é possível aumentar ainda mais esse recurso do governo, mas toda lei tem toda uma problemática, nesse caso a da vigilância sanitária. Então eles vão “se virando” com o que tem.

A professora Rosangela Correa nos falou sobre o programa Educação Ambiental nas Escolas Públicas do DF, o qual ela é coordenadora. Na ocasião foi-nos apresentado também o DVD "Alfabetização Ecológica: ABCerrado", no qual, entre vários outros projetos, estão inseridos dois projetos idealizados pelo professor Flávio Paulo Pereira (mais conhecido como Pau Pereira) que são o ABCerrado e a Matomática. (RETIFICO QUE NA OCASIÃO A PROFESSORA ROSÂNGELA CORREA CITOU O PROFESSOR FLÁVIO PAULO PEREIRA COMO ÚNICO E EXCLUSIVO IDEALIZADOR DO ABCERRADO E DA MATOMÁTICA). No DVD é possível encontrar diversas metodologias de ensino sobre o cerrado e que têm como principal proposta estimular os professores a trabalhar Educação ambiental e a ecologia humana. A professora afirma que os seres humanos contribuem para nosso ecossistema, mas precisamos ser educados nesse sentido e que através da poesia, da música, do conhecimento de vida, de saídas de campo etc. é possível uma mudança nesse sentido. Mas a mudança é responsabilidade pessoal.

Assentamento Silvio Rodrigues - by Michelly Belinda

"Ramo descer pra empurrar, ramo descer pra cavar..."

"..e o futuro é uma astronave que tentamos pilotar..."

Saímos para visitar uma das casas do assentamento que foi contemplada com a cisterna. O nosso ônibus atolou na entrada da propriedade, então subimos a pé. Nos deparamos com um lugar verdadeiramente lindo. Algumas crianças. Os meninos jogando bola e as meninas na entrada da casa. Iniciamos uma conversa com os moradores que em seguida foram nos apresentando um pouco de como é o dia a dia naquele lugar. Eu automaticamente já fiz amizade com as crianças que foram comigo até o ônibus buscar o violão. Cantamos e fizemos algumas atividades musicais. O ônibus atolou mais uma vez na tentativa de subir a estrada até a casa. Tentamos desatola-lo, mas não obtivemos sucesso. Voltamos a pé para a cidade da fraternidade. A chuva quase nos pegou. Fomos direto tomar banho, em seguida jantamos. Contamos algumas cenas engraçadas que aconteceram lá no assentamento, por exemplo a queda da Sara. Assistimos a dois vídeos sobre o II Curso de captação de águas da chuva, apresentados pelo Edson César. Depois foi a hora do momento musical. Cantamos bastantes musicas. Depois quando o meu repertório das músicas que canto e toco acabou, passamos a cantar as músicas à capela. Depois fomos jogar imagem e ação. O tema era filmes. Algumas mímicas foram bem engraçadas. A Sara fazendo uma cena do filme ilusionista, o Thiago imitando o Gollun, a Michele fazendo o De pernas pro ar. Rolou uma discussão depois sobre o cara que se masturbou e enfiou o dedo no ânus lá na FE. Certo ou errado? Atentado ao pudor injustificável? Difícil expor uma opinião sobre isso devido as varias variáveis impostas pela pôs modernidade.

mais música

Hora de dormir. Quando eu estava quase pegando no sono, o quarto completamente escuro, o silêncio quase absoluto, eis que ouço um grito de socorro. Não sabia se era algo da minha imaginação, pois o momento entre estar acordado e em sono profundo é deveras misterioso. Esperei ouvir novamente algo, mas nada. Fiquei apreensivo e não consegui dormi. Ouvi porta abrindo, passos e só pensava: aqui é uma comunidade espirita, há possivelmente uma forte espiritualidade e como desconheço a história desse lugar tudo pode ser possível. Demorei muito a dormir.

27/01

Fomos acordados bem cedo. Tomamos café e partimos para São Jorge.

Chapada

no cerrado

primeira parada - by Michelly Belinda

Chegamos debaixo de uma leve chuva, compramos algumas coisas e fomos para o parque mundial da Chapada dos Veadeiros. Assistimos a uma palestra com o Diretor do Parque, falando em nome da ICMBio, sobre a situação do parque e um tema que foi bastante citado foi o problema da lei que suspende a obrigatoriedade de guia para fazer as trilhas pelo parque. Foi-nos apresentado um vídeo sobre as trilhas e medidas de segurança que devíamos tomar ao andar pelo parque. Conhecemos o nosso guia, Rafael, e fizemos um alongamento. Entramos na trilha dos saltos. Fizemos várias paradas no meio do cerrado rupestre onde tive a melhor aula de geografia da minha vida sobre as fitofisionomias do cerrado: rupestre, cerradão, campo úmido, campo limpo, campo sujo, stricto senso, veredas, a história dos garimpeiros que foram os primeiros moradores daquele cerrado, cerca de 5 mil moradores explorando as riquezas daquele lugar, deixando marcas profundas etc.

Depois de muito caminhar paramos para um rápido lanche. Chegamos ao mirante para apreciarmos a paisagem da natureza que ali se mostrava em exuberante beleza, intocada e preservada. A força da queda d’água nos prendeu a atenção. Sonhei alto. Descemos até a margem do rio onde pudemos nos molhar na beira. Realmente estávamos precisando, pois o sol finalmente tinha resolvido aparecer. Foi refrescante, um alívio, além de muito divertido.

by Michelly Belinda

com Márcia Bomfim

A volta parecia não ter fim. Mas a paisagem era deslumbrante.

Almoçamos.

Tomei uma cervejinha com Thais e Michele. Corremos para o ônibus. Ainda cantamos um bocado antes de termos a consciência que estávamos realmente esgotados.

Prfª Drª Rosangela Correa

Só resta agora lembrar. Tenho certeza que foi significativo e especial para todos esses três dias da nossa saída de campo. Obrigado professora Maria Lídia e Rosangela Corrêa por nos proporcionar tão gratificante e enriquecedora saída de campo. Esse final de semana foi, sem dúvidas, responsável para que agora eu veja o cerrado com outros olhos, olhos talvez até marejados por certa paixão.

Prfª Drª Maria Lidia

Eu Isaac

20 comentários:

Luciane Rocha4 de fevereiro de 2013 às 02:06
Muito legal Isaac. Bateu até um pequeno remorso por não ter ido com vocês. Belas fotos.
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Simone Borges6 de fevereiro de 2013 às 11:43
Adorei o relato.. show de bola!! Obrigada!
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Rosângela Corrêa20 de julho de 2013 às 11:57
Pois é Isaac, eu acredito na PEDRA-logia, ou seja, o conhecimento sendo adquirido, enquanto caminhamos pelas pedras; só assim poderemos re-conhecer a sociobiodiversidade do Cerrado, só assim a educação ambiental sairá da perspectiva simplista que fazer horta na escola ou plantar árvores já estaremos educados.
Um forte abraço,
Profa Rosângela
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Unknown24 de agosto de 2013 às 13:08
isaac, em algum momento a professora rosangela correa citou o nome do professor FLAVIO PAULO PEREIRA? ele é o UNICO idealizador e criador da alfabetizaçao atraves do ABCerrado e MATOmatica. espero resposta. abraços. (adorei o diario..)
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Unknown29 de março de 2017 às 12:41
Então foi muito linda a descrição do passeio, porém o que faltou foi verdadeiramente citar o verdadeiro autor do projeto.
Mestre Peu Pereira
E não essa informação.
A professora Rosangela Correa nos falou sobre seu projeto de educação ecológica: o AbCerrado e a Matomática. Esses conhecimentos foram sistematizados pedagógica e didaticamente em um DVD que tem como principal proposta para os professores a Educação ambiental e a ecologia humana. A professora afirma que os seres humanos contribuem para nosso ecossistema, mas precisamos ser educados nesse sentido e que através de poesia, de música, de conhecimento de vida, de saídas de campo é possível uma mudança nesse sentido. Mas a mudança é responsabilidade pessoal.
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Rosângela Corrêa29 de março de 2017 às 13:10
Prezado Mauricio,

Eu criei o dvd "Alfabetização Ecológica: ABCerrado" como parte do Programa Educação Ambiental nas Escolas Públicas do DF do qual eu sou a coordenadora; neste dvd eu inclui o Projeto ABCerrado como forma de divulgar o trabalho do Prof. Paulo Pereira que foi meu aluno na Faculdade de Educação na UnB, fiz parte da sua banca de graduação em Artes e somos amigos que trabalhamos juntos há muitos anos, portanto, a sua indignação não tem o menor sentido. O dvd está sendo distribuído gratuitamente nas escolas públicas do DF e inclui muitas outras questões sobre o Cerrado, tema em que sou especialista. Tive a autorização do Prof. Paulo Pereira por escrito para incluir todo o seu projeto no dvd e o nome dele consta nos créditos. Infelizmente Isaac não mencionou o Prof. Paulo Pereira neste relatório de saida de campo da disciplina Fundamentos da Educação Ambiental que eu ministro na Faculdade de Educação na UnB. Isaac se referiu apenas ao meu trabalho sobre a Educação Ambiental e a Ecologia Humana; ele tampouco não comentou tudo que existe dentro do dvd que vai além do alfabeto de plantas e animais do Cerrado e a matomática que é parte do projeto do Prof. Paulo Pereira. O senhor não pode me acusar de farça sem conhecer o meu trabalho e o fruto deste trabalho que é o dvd que estará a sua disposição quando deseje recebê-lo.

Cordialmente,

Profa. Dra. Rosângela Corrêa
Faculdade de Educação
Universidade de Brasília
Campus Universitário Darcy Ribeiro
70904-970 - Asa Norte - Brasília/DF
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Unknown6 de abril de 2017 às 05:36
Este comentário foi removido pelo autor.
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Unknown6 de abril de 2017 às 06:03
Caríssima,
Doutoras como você existem aos montes por aí.
Sua máscara caiu!
O que tenho pra dizer agora é: aguarde...

Isaac, muito obrigada pela correção e retratação, você é muito fino, mas o problema vai muito além do seu blog.
Faltará "linha e tecido" pra tanto remendo que ainda virá.

Quanto ao blog e essa publicação em questão, fico por aqui. Estou, agora e aqui, muito satisfeita com a correção.
Isaac, não o incomodarei mais. Entretanto...ainda há muita coisa a ser corrigida por aí.
Abc
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